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Homenagem do NUDOC a Dom Pedro Casaldáliga (1928-2020)
No dia 08 de agosto, indígenas, ribeirinhos e camponeses perderam um de seus aliados, o bispo emérito de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, conhecido como bispo do povo. Nascido na Catalunha, chegou ao Brasil em 1968, deixando para trás uma Espanha dominada pela ditadura de Franco. Desde então, lutou ativamente contra a ditadura militar e sobretudo o latifúndio. Defensor da Teologia da Libertação, adotou o solo amazônico como seu novo lar. Sua primeira carta pastoral, de 1971, teve como título: “Uma igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social”. Praticava o lema: “Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar”.
O morte que denunciava, porém, sempre o espreitou. Ao defender e organizar os camponeses sem-terra, indígenas, ribeirinhos e trabalhadores rurais, entrou em choque com políticos e latifundiários, com recorrentes ameaças de morte. Em 1976, presenciou o assassinato do Padre João Bosco Penido Burnier, um dos crimes da ditadura militar. A última das ameaças de morte a Casaldáliga foi noticiada em 2012, em mais um episódio da aliança com o povo Xavante de Marãiwatsédé contra a invasão de terras indígenas por latifundiários.
Os Xavantes foram retirados a força pelo governo militar, em 1965, e o agronegócio se instalou no território. Após muita luta, em 1992, a Terra Indígena Marãiwatsédé foi reconhecida pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e, em 2000, os Xavante puderam voltar a ela. Em respeito aos povos originários, Casaldáliga afirmou que nunca celebrou uma missa em Marãiwatsédé. Uma ação coerente com o argumento desenvolvido na "Missa da Terra Sem Males" (1978), obra escrita em co-autoria com Pedro Tierra. Com o mote da "memória, remorso e compromisso", Casaldáliga aponta as chagas da colonização e afirma: "Os cristãos estamos habituados a reconhecer e a celebrar somente os mártires que outros nos fazem. Ignoramos tranquilamente os muitos mártires que nós fazemos".
Dom Pedro Casaldáliga, junto do bispo Dom Tomás Balduíno, fundou na década de 1970, o Conselho Indígena Missionário (Cimi) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT). As instituições são referência da defesa de indígenas e camponeses, com apoio jurídico, defensores de direitos humanos e pesquisadores. Possuem um papel fundamental no registro, sistematização e difusão dos conflitos no campo.
Por onde passei, plantei a cerca farpada, plantei a queimada.
Por onde passei, plantei a morte matada.
Por onde passei, matei a tribo calada, a roça suada, a terra esperada…
Por onde passei, tendo tudo em lei, eu plantei o nada.
(Confissão do Latifúndio, Dom Pedro Casaldáliga)