O Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPE promoverá a palestra “O trabalho das pessoas trans em Buenos Aires: etnografia sobre políticas e ativismos”, na próxima sexta-feira (30), às 10h, a ser apresentada pela professora e pesquisadora argentina María Soledad Cutuli. A palestra será ministrada em português via Google Meet não é necessária inscrição prévia.

María Soledad Cutuli é MSCA/UNA4Career Fellow no Departamento de Antropología Social y Psicología Social da Universidade Complutense de Madri, onde integra a equipe Antropologia, Diversidade e Convivência. Doutora em Antropologia e professora de Ensino Médio e Superior em Ciências Antropológicas, com orientação sociocultural pela Universidade de Buenos Aires. Trabalhou como professora do Departamento e pesquisadora do Instituto de Ciências Antropológicas da Universidade de Buenos Aires, onde orientou teses de doutorado e projetos de pesquisa e extensão. Foi bolsista de pós-doutorado e doutorado do Conicet e da UBA (Argentina) e realizou estadias acadêmicas no Museu Nacional/UFRJ (Brasil), na Freie Universität Berlin (Alemanha) e na Katholieke Universiteit Leuven (Bélgica).

É autora da tese de doutorado intitulada “Entre o escândalo e o trabalho digno. Etnografia da trama social do ativismo travesti em Buenos Aires” e de artigos sobre o tema em revistas acadêmicas nacionais e internacionais. Sua pesquisa articula as contribuições da antropologia política com os estudos sobre sexualidades e gênero, para investigar o processo de politização das mulheres trans, as iniciativas associativas e a construção de demandas em torno do trabalho.

Resumo

Embora não existam estatísticas oficiais sobre pessoas trans na Argentina, estudos realizados por organizações locais mostraram que quase 88% delas nunca tiveram um emprego formal. Isso é resultado da expulsão de casa e da escola em idade precoce, além da falta de oportunidades além da prostituição de rua. Desde 1990, várias organizações surgiram no país em resposta a essa situação, focando seus esforços na denúncia pública da violência exercida pelas forças de segurança e na organização de campanhas de prevenção ao HIV/AIDS. Nas seguintes décadas seus propósitos se diversificaram e suas demandas foram ampliadas para abranger o acesso à educação, moradia, saúde e trabalho. Em relação a este último, desde 2008, o Estado argentino tem apoiado a criação de empreendimentos cooperativos protegidos na área metropolitana de Buenos Aires, voltados para a autogestão do emprego como uma alternativa de trabalho. Recentemente, uma nova lei foi aprovada no Congresso Nacional, prevendo cotas para cargos públicos e isenções fiscais para empresas privadas que contratem pessoas trans. Apresento aqui as principais questões e temas emergentes de uma pesquisa etnográfica sobre iniciativas de inclusão laboral para pessoas trans em Buenos Aires. São delineados três estudos de caso diferentes: o estabelecimento de cotas em agências estatais, a formação de cooperativas e a inclusão e gestão da ‘diversidade’ na esfera privada. Argumento que a ideia de novidade e a efervescência atual do tema devem ser contextualizadas, a fim de iluminar os processos de luta e traçar o curso dessas demandas na Argentina.