Grupo Indígena: Kambiwá
População: 2576
Localização: Município de Ibimirim, Inajá, Floresta (PE). Sub-região do Vale do Moxotó. [ver mapa]
Extensão: 31.495..3123 ha
Posto Indígena: PI Kambiwá ( na baixa de Alexandra); subordinado a ADR Garanhuns/PE.
Situação Jurídica:
IDENTlFICADA. Os Kambiwá - grupo indígena de filiação lingüística não determinada - habitam a região das serras Negra e do Periquito (as quais constituem o mesmoalinhamento orográfico, situado na região do Vale do Moxotó) desde, pelo menos, o inicio do século XIX, época em que os "coronéis" do chamado "Alto Sertãopernambucano" os perseguiram e dispersaram por força das armas" (FUNAI, 1988). Em seu movimento de perambulação pelo sertão, várias foram às tentativas de retomar a Serra Negra, que consideram a "mãe" da qual seus filhos foram afastados. Inúmeros relatos dão conta das sucessivas expulsões da serra, induzindo o grupo a um movimento de permanente diáspora e conseqüente ocultamento da identidade étnica, sujeitos que estavam à repressão de suas práticas rituais ("Toré" e "Praiá"), inclusive com o auxílio de forças policiais.A passagem do século XVIII para o XIX foi ocasião das últimas "reduções de índios" (visando o estabelecimento de aldeamentos) que se tem notícia, no sertão de Pernambuco.
Em 1802, um missionário capuchinho italiano, Frei Vital de Frescarolo, afirma ter aldeado, no lugar conhecido como Jacaré, entre a Serra do Periquito e a Serra Negra, 114 índios da nação Pipipão que, segundo seu relato; "andavam embrenhados no sertão da Serra Negra" e envia exemplares das armas e vestes destes índios a Sua Alteza Real, em sinal de sua obediência e fidelidade (frescarolo, 1802/83).
Poucos anos mais tarde (1823), "José Francisco da Silva e Cipriano Nunes da Silva expeliram à mão armada os índios Pipipães que habitavam a Serra Negra, situaram uma fazenda pastoril, construíram casas e currais, fizeram grandes plantações, abriram estradas, e para sua garantia mantinham gente armada, prevenindo qualquer investida dos índios espoliados de suas terras" (Albuquerque, 1989/1889). Embora formassem o contingente majoritário ao que parece, não se pode dizer queeram os Pipipães os únicos habitantes da Serra Negra. Relatos diversos dão conta que outros etnônimos, igualmente noticiados, tais como os "Vouê", "Umãs", "Aricobés" e "Avis" (Ibid.: 132-133), integravam o que Hohenthal Jr. (1960) veio mais tarde chamar de "bandos nômades da Serra Negra", mencionando as diversas tentativas frustradas empreendidas, já neste século no sentido de aldear estes índios junto com os Pankararu de Brejo-dos-Padres, com quem sempre tiveram estreitarelação. O “território de perambulação" dos Kambiwá compreendia, segundo informações colhidas “Pedra Furada, Serra da Cangalha, Serra das Areias , Serrote dos Bois (1,5 léguas antes do Moxotó), Serrote Sonhém, Cabembe. margem esquerda do São Francisco, e daí até a Pedra Furada" (FUNAI, 1988).
Até o início de nosso século, a situação dos índios do sertão caracterizava-se pela flagrante exploração a que estavam sujeitos pelos fazendeiros locais, contra os quaisse mobilizou um grupo de interessados em sensibilizar a opinião publica da época sob o incentivo e orientação do Monsenhor Alfredo Damaso.Este religioso mantinha em fins da década de 30 , contato sistemático com Getúlio Vargas , a quem foi atribuída à autorização para que estes índios ocupassem definitivamente a Serra Negra,enviada em telegrama entre 1939 e 1940 ao Padre Dámaso em São Serafim. Naquela ocasião, diversas famílias de descendentes dos antigos moradores da Serraencontravam-se instalados nas imediações da mesma, onde hoje está localizado o PI Kambiwá. Liderados pelo índio João Fortunato, mais conhecido como João Cabeça-de-Pena, ensejaram sua derradeira - e frustrada - tentativa de ocupação da Serra Negra que resultou na prisão e tortura seguida de morte de Cabeça-de-Penapela Polícia de Inajá (Ver Barbosa,1991).
Definitivamente alijados da Serra, os índios retornaram ao "Baixo do Araticum", hoje conhecido como "Baixa da índia Alexandra", onde permaneceram e se reorganizaram até que em 1954, o então Ministro da Agricultura, o Pernambucano João Cleofas "manda demarcar as terras ( grupo com os seguintes limites: Nazário Serrote das Cabaças, Riacho Americano, faveleira, Serra Verde eISerra da Inveja" (FUNAI/88), quando foi construido o "Travessão" - responsável até hoje pela divisãode uma extensa área em terra de pasto" e "terra de roça" – como forma de amenizar as tensões entre os índios, agricultores e o fazendeiro pecuarista. A pnimeira demarcação física só viria a ocorrer, contudo, em 1978, já sob a tutela da FUNAI, com 15.934 ha. Contestada desde o início da sua execução pelos representantes do grupo, a proposta original foi modicada, excluindo um dos trechos mais cultiváveis de toda a área, onde está situada a "Lagoa de Dôca" - importante fonte de água e argila para o grupo e em cujas vazantes chegaram a cultivar arroz com sucesso em ocasiões diIversas -, além da "Serra do Periquito" e a "Faveleira"; dois dos cincopovoados por eles identificados.
O processo de regularização da terra Kambiwá fora desta forma interrompido até 1992, quando foi constituído, através da Portaria/ Funai nº 1284/92, um grupode trabalho, responsável pela identificação, levantamento fundiário e delimitação da AI Kambiwá no período compreendido entre 15 e 30 de outubro daquele ano. Nesta ocasião procedeu-se a inclusão, no novo traçado da Serra do Periquito e da Faveleira, além de parte significativa da chamada Fazenda Terra Rica, onde está localizada a Lagoa de Doca, sendo aproveitadas todos os outros marcos da demarcação de 1978. Isto se deu na altura dos povoados do “Pereiro” e do “Tear”, onde os representantes indígenas optaram pela preservação do antigo traçado com o esforço das cercas e perfurações, em contrapartida , de um poço em cada uma dessas aldeias.
Além disso os índios atualizaram uma antiga reivindicação, no sentido de terem acesso à Reserva Biológica da Serra Negra, atualmente administrada peloIBAMA, para a pratica de rituais em determinadas ocasiões. Da mesma forma, recentemente solicitaram uma pequena alteração no traçado proposto pelo último GT, no sentido de estender a delimitação (no limite superior) até o limite da cerca do IBAMA , para que o acesso à Serra Negra não venha a ser obstaculizado pelo avanço de fazendeiros locais. ( A este respeito ver Barbosa, 1993).